parceria com o Instituto Municipal Nise da Silveira

Sesc RJ e Instituto Municipal Nise da Silveira reforçam a missão do respeito à diversidade e do direito à Cultura

Por Cleide Fonte e Gabriela Farias

Muito se fala do papel fundamental da cultura no período da quarentena. Os diálogos nos trazem as discussões sobre as ausências e o que seria de nós sem as linguagens artísticas.  A cultura, com a ajuda da tecnologia, demonstra mais uma vez a capacidade de unir pessoas, desenvolver confiança e oportunizar encontros para além dos impedimentos atuais. Porém, não é de hoje que a arte contribui para o bem-estar da sociedade, através dela podemos nos superar e atravessar as barreiras que nos são impostas no dia a dia. No mês em que se celebra a luta antimanicomial, entre tantos exemplos, destacamos a parceria do Sesc RJ com o Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira.

A alagoana Nise da Silveira, discípula de Carl Jung, revoluciona o tratamento psiquiátrico no Brasil na luta contra os manicômios e as práticas desumanas desses espaços e funda a Seção de Terapêutica Ocupacional no Centro Psiquiátrico Pedro II, curiosamente no mesmo ano em que o então presidente da República Eurico Gaspar Dutra decreta a criação do Sesc e do Senac, em 1946. Ao seu lado, a enfermeira e assistente social Ivone, posteriormente conhecida como a cantora e compositora do Império Serrano Dona Ivone Lara, é fundamental no êxito do novo tratamento. Através de seus contatos consegue patrocínio, adquire instrumentos musicais e cria a oficina de música, que passa a apoiar festas e eventos de socialização entre os pacientes, seus familiares e os funcionários do hospital. Além do trabalho com a música, podemos destacar também os ateliês de pintura e modelagem que estimulam a fundação do Museu de Imagens do Inconsciente em 1952, tornando Nise da Silveira mundialmente conhecida.

No ano 2000, o Centro Psiquiátrico Pedro II se torna Instituto Municipal Nise da Silveira, no contexto do fortalecimento do movimento da Luta Antimanicomial e do desenvolvimento da Política Nacional de Saúde Mental e vira referência para estudantes de diversas áreas de interesse de todo Brasil.  Em 2001 é aprovada a Lei Federal de Saúde Mental, nº 10.216,  depois de doze anos de tramitação, que regulamenta o processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil. Mesmo ano em que uma oficina de arte do serviço ambulatorial para pacientes e seus familiares dá origem a um bloco de carnaval, o Loucura Suburbana. O desfile anual do Bloco Loucura Suburbana arrasta centenas de foliões pelas ruas do Engenho de Dentro e acontece toda 5ª feira antes do carnaval.

Ariadne de Moura Mendes, coordenadora do Bloco Carnavalesco Loucura Suburbana e do Ponto de Cultura Loucura Suburbana – Engenho Arte e Folia define:“ O desfile do bloco loucura suburbana além de ser um encontro alegre que reúne foliões de toda cidade, é também a celebração de todo um trabalho da rede pública de saúde mental , mas para que ele aconteça várias atividades são desenvolvidas ao longo do ano.” e destaca a importância da parceria com o Sesc RJ:

Neste ano 2020 o Loucura Suburbana realizou o seu vigésimo desfile e foi o segundo ano de uma feliz parceria estabelecida com o Sesc RJ. Parceria que permitiu que a gente realizasse dois  sonhos: O primeiro foi fazer a escolha de samba na sede do Sesc, isso era um sonho antigo nosso; e o segundo foi a realização da oficina dos bonecos do Germano. (…) apesar de todo o reconhecimento, tem sido um grande desafio colocar o bloco na rua. Mas nesses dois últimos anos com certeza algo novo se produziu na equipe, é um sentimento de mais confiança e tranquilidade para realizar as tarefas e enfrentar os desafios.  E esse sentimento novo tem sido proporcionado pela parceria com o Sesc RJ por causa da sua estrutura organizacional, do profissionalismo e da dedicação da sua equipe.”

 

Além de realizar a escolha do samba enredo do bloco nas dependências do Sesc RJ com a presença de várias personalidades do mundo do samba e da comunidade do Engenho de Dentro, vale destacar que as áreas de Música e Artes Cênicas do Sesc participam com a contratação da fanfarra e dos artistas circenses que fazem a festa durante o desfile!  Setores de Educação e Assistência também colaboram por meio das oficinas de artesanato, oficina de abadá de carnaval e confecção de adereços e fantasias. Em 2020, ampliamos a participação durante o desfile com a presença de instrutores de dança e esporte, TSI, dicas de saúde e a campanha “História e manifestações locais de carnaval”.

Abel Luis, coordenador musical do Bloco comenta sobre a importância do trabalho desenvolvido: “acho que a grande contribuição que o Loucura coloca enquanto dispositivo de cultura e carnaval, de bloco de rua, artístico, estético, social (…) é que ele coloca pra sociedade o quanto essas discussões são de toda a sociedade civil. Ela amplia e aproxima, até porque esse gargalo onde vão parar as pessoas que precisam de um atendimento estão extremamente atrelados a uma realidade que inclui pobreza, preconceitos, estigmas, situação de rua, uso de álcool e drogas, violência doméstica, violência racial, violência relacionada a questão de gênero, e às vezes sejam elas separadas ou sejam elas combinadas todas em uma única pessoa. Então o grande debate que a gente faz é aproximar a sociedade civil e fazê-la perceber que  é uma questão para sociedade viver melhor como um todo e não de uma questão de um  grupo específico”.

E enfatiza:  “acho que a gente tem na cultura uma grande resposta, uma resposta que é criativa, uma resposta que dialoga, que aproxima, que constrói o que a gente mais precisa, sair desse lugar de estranhar o outro e entrar no lugar de acolher o outro. (…) E essas parcerias vão desde se pensar como vizinho, se pensar como equipamento do bairro… e aí nesse ponto é fundamental a parceria com o Sesc RJ que também, assim como o Nise, no Engenho de Dentro, o Loucura, o CAPS Clarice Lispector onde eu faço a minha oficina livre de música, são coisas conhecidas e reconhecidas como parte do dia a dia do bairro, seja de acordo com o tempo histórico, ou de acordo com o tempo simbólico de cada coisa, elas vão se ressignificando. Essas parcerias vão muito nesse campo de como que a gente constrói formas de produzir ordinários mais solidários … como a cultura é uma ferramenta importante para isso. E como equipamentos, indivíduos, fazeres, e cotidianos tem que se integrar para que a gente possa juntos aprender uns com os outros. E acho que por esse caminho a gente acaba convergindo, seja com as coisas que a gente está comungando e convergindo também numa forma de equilibrar, equacionar o que é diferente entre a gente. O que é diverso entre a gente. Não em uma forma de se competir, mas numa forma de se completar”.

Da parceria com o Sesc RJ no campo das artes visuais surgem duas exposições: “Loucura Suburbana: Engenho, Arte e Folia” – homenagem aos 20 anos do bloco com fotografias de diversos colaboradores e indumentárias de mestre sala e porta bandeira; e “Bonecos Gigantes do Germano”, que leva para as ruas e galeria releituras de bonecos gigantes famosos desde a década de 50 nos carnavais de rua do Engenho de Dentro e Encantado.

Além das exposições, a área realiza oficinas que estimulam as atividades formativas, como a Oficina de Pintura em parceria com o Trilhos do Engenho. Para Lúcia Andrade, coordenadora do Centro e seus colaboradores “No Centro de Convivência atendemos usuários de saúde mental, familiares e algumas pessoas da comunidade. Temos como diretriz de trabalho promover e facilitar a autonomia dos usuários por meio da convivência em grupo, da circulação pela cidade e do acesso a espaços de arte e cultura, a fim de tensionar e transformar o estigma sobre a loucura bem como sobre outras formas de exclusão”.

Entre as realizações em parceria com o Sesc RJ, podemos citar duas oficinas de audiovisual, com a técnica do “Stop Motion” com temática referente ao 18 de maio, Dia da Luta Antimanicomial, e em contribuição à campanha Setembro Amarelo, que trata do importante tema da prevenção ao suicídio.

 

O Espaço Travessias – Núcleo de Cultura, Ciência e Saúde também promove diversas atividades e os afetos se dão, sobretudo, através das atividades culturais e artísticas, segundo Marcelo Valle “todo ser humano está sujeito a passar por algum tipo de sofrimento psíquico ao longo de sua vida. E cada ser humano lida de diferentes maneiras com esse sofrimento, de acordo com suas fragilidades, entregas, experiências de vida e o contexto em que vivem”. No atual cenário, o Espaço tenta recriar algumas das oficinas, mantendo o isolamento social, conforme as orientações da OMS. “Estão sendo produzidos por nossos  agentes  culturais de saúde e parceiros diferentes materiais voltados para clientes, profissionais de saúde,  cuidadores e também  acessível à população de forma geral”, como nos informou Marcelo. Esse material está sendo  disponibilizado em diferentes redes sociais, nos perfis do Espaço Travessia no Facebook, no Instagram e compartilhado no Whatsapp.

 

As famílias do Instituto são ainda presença marcada na Unidade Sesc Engenho de Dentro, participando  de diversas atividades, como visita mediada à galeria, exibições de cinema com debate, teatro, apresentações de música, visita à sala de cultura digital, além dos  cursos e oficinas, tudo de forma gratuita; gerando um intercâmbio entre duas instituições importantes para a Zona Norte.

 

Nise: o coração da loucura, com direção de Roberto Berliner. Filme disponível para aluguel no google play ou youtube.

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